Nos últimos meses, uma cena incomum chamou a atenção do mundo: Kim Jong Un, o líder da Coreia do Norte, foi às lágrimas em um discurso público, demonstrando uma vulnerabilidade raramente vista em regimes autoritários. Para muitos, isso foi um sinal claro de desespero em um país que enfrenta uma crise sem precedentes.
Embora a Coreia do Norte seja conhecida por sua propaganda que projeta uma imagem de força militar e autossuficiência, a realidade dentro de suas fronteiras é muito diferente. O regime, que prioriza investimentos bilionários em armas nucleares, está à beira de um colapso econômico e social. Mas como o país chegou a esse ponto? Se preferir, assista ao vídeo:
Uma economia em ruínas
A derrocada econômica da Coreia do Norte começou décadas atrás, com a queda da União Soviética em 1991. Sem seu principal aliado econômico, o país mergulhou em uma crise profunda. Além disso, as sanções internacionais impostas devido ao programa nuclear norte-coreano agravaram ainda mais a situação.
Atualmente, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita da Coreia do Norte é de apenas 1.200 dólares por ano – um dos mais baixos do mundo. Isso reflete uma realidade sombria: mais da metade da população vive em condições de extrema pobreza, enfrentando fome crônica e desnutrição. A infraestrutura do país também está em colapso. Somente 70% das famílias têm acesso a habitações adequadas, e os hospitais carecem até mesmo de medicamentos básicos.
Apesar disso, Kim Jong Un continua a priorizar o programa nuclear, investindo bilhões de dólares em armamentos. Ele acredita que estas armas são seu único seguro contra uma possível invasão por potências como os Estados Unidos ou a Coreia do Sul. No entanto, o custo dessa obsessão é alto: enquanto o regime gasta fortunas com armas, o povo sofre.
A população em declínio
Outro desafio alarmante para a Coreia do Norte é a redução de sua população. Esse declínio é causado por dois fatores principais: a baixa taxa de natalidade e o aumento das deserções.
A taxa de fertilidade no país é de apenas 1,7 filho por mulher, muito abaixo do nível necessário para manter a população estável (2,1 filhos por mulher). Essa taxa é semelhante à de países desenvolvidos, como Japão e Coreia do Sul, mas em um contexto de extrema pobreza, o impacto é devastador. A população está envelhecendo rapidamente, e a força de trabalho jovem – essencial para sustentar a economia e o grande exército do país – está diminuindo.
O governo norte-coreano tentou reverter essa tendência proibindo abortos e contraceptivos e oferecendo pequenos incentivos para famílias com mais filhos, como rações extras ou moradias preferenciais. No entanto, essas medidas não têm surtido efeito. Em um cenário de fome e escassez, ter filhos é visto por muitas mulheres como um fardo insustentável.
Além disso, o número de desertores tem aumentado. Mesmo com as fronteiras altamente vigiadas, muitos norte-coreanos estão arriscando suas vidas para fugir do país. Segundo dados do governo sul-coreano, o número de desertores triplicou em 2023 em relação aos dois anos anteriores.
A influência externa e a ameaça ao regime
Outro problema crescente para Kim Jong Un é o contrabando de informações do exterior. Filmes, músicas e séries de TV da Coreia do Sul e de outros países estão sendo distribuídos clandestinamente em pen drives e DVDs. Isso expõe os norte-coreanos a uma realidade bem diferente da propaganda estatal, que insiste que eles vivem no “melhor país do mundo”. O descontentamento, especialmente entre os jovens, está crescendo.
Internamente, até mesmo as elites do regime estão começando a sentir os efeitos da crise. A escassez de alimentos e recursos atingiu também os aliados mais próximos de Kim, criando rachaduras no governo.
Enquanto isso, Kim busca apoio externo para aliviar a crise. Recentemente, ele reforçou sua aliança com a Rússia, enviando tropas e armamentos para apoiar Vladimir Putin na guerra contra a Ucrânia. Em troca, espera receber tecnologia, combustível e apoio político. No entanto, essa decisão é arriscada. Soldados norte-coreanos na Rússia estão tendo acesso irrestrito à internet pela primeira vez, consumindo conteúdo ocidental e entrando em contato com uma realidade completamente diferente. Há relatos de que muitos desses soldados podem retornar ao país com uma visão mais crítica do regime, algo que Kim teme profundamente.
O futuro incerto da Coreia do Norte
Especialistas acreditam que a Coreia do Norte está enfrentando um dos momentos mais críticos de sua história. A economia está em ruínas, o controle do governo sobre a população está enfraquecendo, e a dependência de aliados externos, como a Rússia, está deixando o país ainda mais vulnerável. Além disso, o futuro da liderança do país é incerto. Kim Jong Un está preparando sua filha como possível sucessora, mas muitos duvidam que ela terá capacidade de manter o regime estável.
A pergunta que fica é: por quanto tempo o regime de Kim Jong Un conseguirá resistir? Enquanto tenta desesperadamente manter o controle, o líder norte-coreano parece estar, lentamente, perdendo a batalha para preservar seu país e seu poder. O mundo, por sua vez, observa de perto, ciente de que o colapso da Coreia do Norte poderia ter consequências globais profundas.
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