OS 18 DO FORTE: A MARCHA QUE DESAFIOU UM SISTEMA

O Brasil em chamas políticas
Em 1922, o Brasil parecia estável por fora; porém, por dentro, fervia em tensões sociais e políticas. O presidente era Epitácio Pessoa, representante da “Política do Café com Leite”, sistema em que Minas e São Paulo se revezavam no poder. Além disso, esse arranjo era mantido por fraudes eleitorais, coronelismo, troca de favores e repressão aos opositores. Consequentemente, o descontentamento crescia.
Enquanto isso, o país enfrentava inflação, greves e o impacto econômico do pós-Primeira Guerra Mundial. Por outro lado, as elites políticas seguiam vivendo como se nada estivesse acontecendo. Assim, os tenentes — jovens oficiais do Exército — começaram a se revoltar, pois acreditavam que os ideais republicanos estavam sendo traídos.
Desse modo, nascia o Movimento Tenentista: um grupo que defendia que o Exército tinha o dever moral de proteger o povo da corrupção e restaurar a dignidade nacional.
O plano da revolta

Diante desse cenário, os tenentes decidiram agir. O plano previa levantes simultâneos em vários estados, o que, em tese, derrubaria rapidamente o governo. O foco principal seria o Forte de Copacabana, que possuía canhões capazes de atacar posições na cidade e navios no mar.
Então, na madrugada de 5 de julho de 1922, os canhões do Forte romperam o silêncio do Rio de Janeiro. Logo em seguida, iniciou-se o bombardeio contra alvos governistas. Era a Revolta em marcha.
Entretanto, em São Paulo e nas outras guarnições, quase nada saiu como planejado. Alguns militares recuaram, enquanto outros foram presos antes de agir. Por consequência, o Forte ficou completamente isolado e sem qualquer esperança de reforços.
A traição e o ato final
Apesar disso, os rebeldes resistiram o quanto puderam. Contudo, com o cerco fechado e diante de um ultimato para se renderem, recusaram-se a desistir. Eles sabiam que o destino estava selado. Ainda assim, buscavam um desfecho digno.
Assim, às 13h, 18 homens saíram pelo portão do Forte e começaram a marchar lado a lado pela Avenida Atlântica, mesmo sabendo que caminhavam em direção à morte. Era um gesto de honra e desafio simbólico contra um sistema inteiro.
Como resultado, 16 deles tombaram sob fogo de metralhadoras e da artilharia legalista. Apenas dois sobreviveram:


• Eduardo Gomes — futuro brigadeiro e duas vezes candidato à presidência.
• Siqueira Campos — que continuou no Tenentismo até 1930, quando morreu em acidente aéreo ainda envolto em mistério.
Quem eram os 18?

A marcha reunia oficiais, graduados, soldados e até um civil idealista:
Cap. Euclides Hermes da Fonseca (filho do presidente Hermes da Fonseca)
Cap. Eduardo Gomes
Ten. Siqueira Campos
Ten. Newton Prado
Ten. Mário Tamarindo
Ten. Juarez Távora (evadiu antes da marcha — depois se tornou general e ministro)
3º Sarg. João Batista de Oliveira
Cabo Antônio Joaquim da Silva
Soldado Pedro Ferreira de Melo
Soldado Manuel Lira
Soldado Hildebrando da Silva Nunes
Soldado Raimundo Correia
Soldado Eustáquio Vieira
Soldado José Freire
Soldado João Dutra
Soldado José Pinto de Oliveira
Soldado Nilton Prado
Otávio Correia (estudante de medicina — único civil do grupo)
Inclusive, esse último se juntou por convicção, não por obrigação.
O impacto histórico
Muito além de uma revolta militar mal-sucedida, o episódio:
abalou a legitimidade da República Velha
popularizou o ideal reformista dos tenentes
motivou a Coluna Prestes e outras ações
pavimentou, anos depois, a Revolução de 1930
Em outras palavras, aquela derrota moldou a vitória futura. O regime nunca mais seria o mesmo.
Legado
Hoje, os 18 do Forte simbolizam:
• coragem diante da injustiça,
• lealdade aos princípios,
• sacrifício em nome do Brasil.
Eles perderam a batalha, contudo, venceram na memória. Afinal, foram a faísca que incendiou a mudança.
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