Por mais de oito décadas, uma das imagens mais perturbadoras da Segunda Guerra Mundial guardou um mistério que parecia impossível de resolver.

A fotografia mostrava um soldado nazista, de óculos, apontando uma pistola para um homem ajoelhado à beira de uma vala comum — instantes antes da execução. Atrás deles, outros membros da SS observavam em silêncio.

O atirador foi identificado como Jakobus Onnen, um professor nascido na Alemanha em 1906.

A cena, capturada na Ucrânia de hoje, ficou conhecida como “O Último Judeu de Vinnitsa” e tornou-se símbolo da brutalidade do Holocausto.

Agora, 80 anos depois, a inteligência artificial revelou o nome por trás daquele rosto.

O responsável pelo disparo era Jakobus Onnen, um professor alemão nascido em 1906 em Tichelwarf, que ensinava francês, inglês e ginástica antes de se unir ao Partido Nazista em 1931.

A descoberta foi feita pelo historiador alemão Jürgen Matthäus, que combinou algoritmos de reconhecimento facial, registros históricos e relatos familiares para confirmar a identidade do carrasco.

“A correspondência é excepcionalmente alta”, afirmou Matthäus ao The Guardian.
“A tecnologia ajudou, mas o fator humano ainda é essencial.”

A foto que se tornou símbolo do horror

Por décadas, acreditou-se que a imagem tivesse sido registrada na cidade de Vinnitsa. Mas o estudo, publicado no Journal of Historical Studies, revelou um novo local: Berdychiv, em 28 de julho de 1941.

Naquele dia, o Einsatzgruppe C, unidade de extermínio da SS, executava uma “limpeza” antes da visita de Adolf Hitler à região ocupada da União Soviética.

A fotografia mostra o exato momento em que a ideologia nazista se materializa em ação — o instante em que um ser humano tira a vida de outro, diante da câmera.

“Essa imagem é tão importante quanto o portão de Auschwitz”, disse Matthäus.
“Ela mostra o confronto direto entre o assassino e sua vítima. É o rosto da banalidade do mal.”

A trilha que levou até Onnen

O avanço só foi possível graças a uma coincidência. Depois que o estudo sobre o massacre de Berdychiv foi publicado na Alemanha, um leitor reconheceu o rosto do soldado: dizia se parecer com o tio de sua esposa.

O homem forneceu correspondências da época e dados biográficos — todos compatíveis. As fotos foram então analisadas por voluntários do Bellingcat, grupo de jornalismo investigativo que utiliza IA e ferramentas forenses para identificar crimes de guerra.

O resultado confirmou o impossível: era ele.

Onnen, que havia se alistado nas Unidades de Cabeça da Morte da SS em Dachau, atuou depois na “Polícia da Ordem” na Polônia ocupada. Em 1941, juntou-se ao Einsatzgruppe C, responsável por exterminar quase 20 mil judeus, deixando apenas 15 sobreviventes.

Um monstro comum

Jakobus Onnen nunca chegou a ser promovido. Morreu em 1943, combatendo guerrilheiros na região de Zhytomyr, na Ucrânia — sem jamais ter respondido por seus crimes.

Um homem aparentemente comum, professor de idiomas, convertido em símbolo da frieza do regime.

Sua vítima ajoelhada segue sem nome. Mas Matthäus já anunciou o próximo passo: usar registros soviéticos e novas ferramentas de IA para tentar identificar quem era o homem diante da arma.

Reflexão final

A foto sempre foi um lembrete da barbárie. Agora, com o nome do atirador revelado, ela se torna algo ainda mais profundo: um espelho.

Mostra que a história, por mais distante que pareça, pode ser revisitada — e que até os fantasmas mais sombrios do século XX podem ser desmascarados quando a verdade encontra a tecnologia certa.

Fontes: The Guardian, Journal of Historical Studies, United States Holocaust Memorial Museum.