O choque de bomba (em inglês, Shell Shock) foi um dos principais efeitos colaterais da Primeira Guerra Mundial. Muitos soldados sofreram com isso, pois era causado pelas fortes explosões e pelos combates constantes associados à guerra. Tropas que sofriam de choque de bomba lutavam contra o sono, entravam em pânico ao ouvir tiros, ruídos altos, gritos e sons semelhantes. Às vezes, isso afetava até mesmo sua capacidade de andar e falar. O choque de bomba era uma condição assustadora.
O termo “choque de bomba” geralmente se aplica à Primeira Guerra Mundial. Depois desse conflito, uma doença semelhante passou a ser conhecida como “reação ao estresse de combate”. Mas o que exatamente isso causava? Quais eram os sintomas?
História
Os sintomas relacionados ao choque de bomba começaram a aparecer nos primeiros estágios da guerra. As tropas britânicas foram uma das primeiras a relatar os efeitos. Os problemas mais comuns eram o zumbido — que significa ouvir sons quando não há som real para escutar —, dores de cabeça, tontura, amnésia e tremores. As tropas também relataram que se tornavam extremamente sensíveis ao ruído, o que era um dos maiores problemas associados ao choque de bomba.

Tudo isso poderia estar relacionado a um ferimento na cabeça, mas a maioria dos homens não apresentava sinais físicos de lesão. Em 1914, o número de soldados britânicos relatando esses sintomas havia atingido 4%, enquanto, entre os oficiais, o número era de 10%. O trauma pós-choque foi mencionado pela primeira vez na mídia em 1915.
À medida que a guerra avançava, o número de casos de choque de bomba cresceu. No entanto, os médicos ainda acreditavam que o distúrbio estava relacionado a algum tipo de dano físico sofrido pelas tropas durante a batalha. Alguns alegavam que as explosões causavam ondas de choque que feriam os cérebros dos soldados. Outros pensavam que o monóxido de carbono, liberado pelas explosões, era o responsável pelos danos cerebrais.

A ideia de que o problema poderia ser emocional, e não físico, começou a ganhar força quando soldados que não estavam expostos diretamente ao bombardeio também começaram a relatar sintomas semelhantes. As autoridades, no entanto, continuaram a defender a hipótese física. Um dos maiores desafios em provar o contrário era que raramente se registrava se a vítima havia estado próxima ou não de um bombardeio. Por causa disso, o choque de bomba passou a ser visto por muitos como um sinal de covardia.

Como foram tratados os choques agudos e crônicos?
Quando os casos de choque de bomba começaram a surgir, os soldados eram retirados da linha de frente o mais rápido possível. Isso acabou se tornando um problema logístico, já que, conforme o tamanho das tropas aumentava, também cresciam os casos de choque de bomba. Foi nesse momento que as forças militares começaram a tentar desenvolver formas de aliviar o problema.
O tratamento inicial incluía alguns dias de descanso para o soldado. Em seguida, recomendava-se que o oficial responsável o monitorasse diretamente nas trincheiras. Se a situação estivesse tranquila, era sugerido que o oficial conversasse com ele sobre qualquer assunto — guerra, família, ou outros temas — com o objetivo de tranquilizá-lo.
Se o problema fosse mais grave, as vítimas eram enviadas para uma estação de limpeza de vítimas, onde ficavam por várias semanas. Se ainda não tivessem se recuperado, eram encaminhadas para nova observação, e nesse ponto o problema era considerado crônico.
Aqueles que desenvolveram choque de bomba crônico poderiam ficar com sequelas pelo resto da vida. Há registros que indicam que, até 1960, ex-soldados britânicos ainda estavam sendo tratados por essa condição.
Vítimas ou Covardes
Algumas vítimas foram vistas como covardes. Soldados britânicos em estado de choque chegaram a ser julgados por covardia e deserção. A ideia era que, se você “alegasse” choque de guerra e permanecesse afastado por mais tempo do que o considerado normal, estaria demonstrando falta de caráter ou de masculinidade.
Não era comum que soldados britânicos fossem executados por crimes de guerra, mas isso aconteceu. Ao todo, foram realizados cerca de 240.000 julgamentos militares. Desses, pouco mais de 3.000 resultaram em condenações à morte, e 346 soldados foram de fato executados. Destes, 18 foram executados por covardia, embora a deserção tenha sido o principal motivo das sentenças, com mais de 260 casos.
Como foi tratado nas fases iniciais?
No início, os doentes recebiam alguns dias de folga, mas havia outras formas de tratamento — algumas bastante severas. Métodos como envergonhar publicamente o soldado e provocar dor eram comumente usados, com o objetivo de forçá-lo a superar o choque.

Outro método utilizado era a terapia de choque elétrico, que induzia convulsões no corpo. A intenção era que essas convulsões aliviassem sintomas psiquiátricos, incluindo o próprio choque de bomba.
Banido
A palavra Shell Shock foi proibida de ser usada em vários países. Ao final da guerra, o Exército Britânico baniu seu uso em diagnósticos. Além disso, os militares instruíram que o termo não deveria aparecer em jornais ou outros meios de comunicação, sendo censurado sempre que possível.
Muitos nomes
Desde a Primeira Guerra Mundial, essa condição recebeu muitos nomes diferentes. Hoje, um dos diagnósticos mais comuns para soldados que enfrentam traumas de guerra é o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Os dois problemas compartilham diversos sintomas, embora não sejam exatamente a mesma coisa. No entanto, enquanto houver guerras, alguma forma de choque de bomba continuará afetando os soldados e deixando marcas profundas.
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